13 novembro 2008

15 de Novembro no Museu do Trabalho, Setúbal


O MOTIVO E O PRETEXTO: contribuir para o estudo da Vinha e do Vinho de Carcavelos

Se o leitor quiser comprar uma garrafa de Vinho de Carcavelos ficará porventura surpreendido ao dar-se conta da dificuldade em encontrar o produto à venda e, se tiver a sorte de o conseguir, do elevado preço que lhe é pedido. Tal acontece devido à exiguidade da produção, hoje confinada a duas ou três explorações, uma vez que as «Quintas» em que outrora se produzia foram urbanizadas na sua maioria ao longo das últimas décadas. Contudo, épocas houve em que a produção era abundante e em que as «Quintas» se estendiam por significativas partes do território da freguesia de Carcavelos e anda pelo concelho de Oeiras.

O Vinho de Carcavelos, conhecido nos finais do século XVIII e inícios do XIX por Lisbon Wine, por comparação com o Port Wine (chegou mesmo a ser utilizado no Alto Douro para «engrossar» o Vinho do Porto, como veremos), foi e ainda é um produto vinícola de excelência. Foi no tempo de D. Carlos I que, por carta de lei de 1908, o Carcavelos obteve a designação de generoso. A sua qualidade e a sua tipicidade foram reconhecidas pelo Decreto nº. 1 de 10 de Maio de 1907 e confirmadas pela Carta de Lei de 18 de Setembro de 1908, que definiu os princípios gerais da sua produção e comercialização.

Importa não deixar desaparecer uma tão brilhante e valiosa tradição vinícola, investigando a sua rica história e criando as condições para o aumento sustentado da sua produção e para a sua reabilitação no mercado, com a criação de um Museu monográfico e de um Solar para a sua promoção.

Foi esse o caminho escolhido pela Câmara Municipal de Cascais ao decidir instalar essa unidade museológica, cujo programa nos foi encomendado, nas Adegas da Quinta do Barão e ao adquirir ao Sr. José Maria Almarjão o notável espólio documental e de objectos por ele meticulosamente recolhido ao longo de muitos anos, com o qual se realizou, em 2005, uma exposição destinada a resgatar do esquecimento a Vinha e o Vinho de Carcavelos e a apresentar o projecto do Museu.

Faltava, todavia, realizar a investigação de fundo sobre a história da Vinha e do Vinho de Carcavelos, fazendo o aturado levantamento e estudo da documentação relativa às «Quintas» e reconstituindo o processo produtivo do apreciado néctar, tendo como objectivo final a programação e a instalação do Museu. É o que, na medida das nossas possibilidades, este livro pretende levar a cabo. Não se trata, apenas, de um estudo de História Local, no sentido restrito, mas de uma visão que contempla a História e a Identidade de uma região e de um processo produtivo com protagonistas concretos, alguns dos quais ainda vivos, que se tornaram informantes privilegiados neste trabalho. Trata-se, portanto, de uma obra que é subsidiária das metodologias complementares da História e da Antropologia.



Ana Maria Lopes Duarte Baptista Pereira, museóloga e professora. Licenciada em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e Mestrado em Museologia e Património pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa

Actualmente aposentada da função pública da carreira de História e Museologia, onde trabalhou trinta anos em museus, realiza presentemente projectos de investigação e implantação de serviços educativos em unidades museais pelo país.

Deu aulas nos mestrados de museologia e especialização em serviços educativos, na Universidade de Évora, Lusófona e Faculdade de Belas Artes onde nesta ainda orienta teses de mestrado.

Informação divulgada por:Museu do Trabalho Michel Giacometti
Largo dos Defensores da República
2910-470 Setúbal

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